sexta-feira, 30 de setembro de 2016

A “Contra-Reforma” do Ensino Médio. A que interesses atende?



A Medida Provisória que modifica o currículo do ensino médio anunciada no dia 22 de setembro pode ser considerada como um dos maiores retrocessos dos últimos 40 anos à educação no Brasil. A MP alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996 sem diálogo com a sociedade, a não ser com o Conselho de Secretários Estaduais de Educação, e está na contramão da Conferência Nacional de Educação na qual participaram dezenas de entidades e associações ligadas à educação.
Ela ocorre em detrimento a diversas reivindicações de entidades de classe ligadas à Educação, sem o devido diálogo com as mesmas. Preferiu-se impor a MP, de cima para baixo e em meio a um repertório de ajustes e reformas neoliberais que restringem direitos e condições adequadas aos serviços públicos mais essenciais.
Sob a justificativa de que os Índices de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) estão estagnados desde 2011 e de que a carga horária das disciplinas é muito extensa e pouco produtiva, o Ministério da Educação, de uma só vez, restringiu no currículo escolar, disciplinas como Filosofia e Sociologia, Educação Física e Artes, além de enquadrar as demais disciplinas em quatro grandes áreas de conhecimento, facultando à Base Nacional Comum Curricular o que será ofertado.
Isso significa que dependendo do novo Parâmetro Pedagógico, essas disciplinas, assim como outras, poderão ser diluídas e enquadradas em um único conteúdo, o que reduzirá efetivamente a quantidade de profissionais por áreas específicas, acoplando disciplinas por áreas comuns, tais como biologia e química, perdendo-se com isso, a devida apreciação do conteúdo e o desenvolvimento cognitivo dessas matérias.
Além disso, a Medida Provisória possui um duplo sentido conservador. O primeiro, visa reduzir significativamente o quadro do funcionalismo do magistério e assim promover os ajustes, entenda-se : “cortes” de despesas com os servidores públicos; o segundo sentido é o de promover ataques a disciplinas que sempre incomodaram as elites, tais como a filosofia e a sociologia, que possibilitam uma reflexão mais crítica e questionadora sobre a realidade social e o sentido de nossa existência.
Há ainda outra questão que chama a atenção e que deve ser denunciada.
Outra incoerência e confusão proposital é o anúncio da valorização da “educação integrada”, como sinônimo de educação “educação integral”. Ora, a educação integrada é um dos princípios defendidos pelo movimento de educadores há anos e que defende a junção das disciplinas da base comum com as disciplinas técnicas de modo integrado, possibilitando a formação de um cidadão apto ao mundo do trabalho mas em condições de dar prosseguimento aos seus estudos acadêmicos e que possa ter uma base epistemológica completa, crítica e abrangente. A proposta faz essa confusão com o ensino de tempo integral (geralmente em dois turnos) que necessariamente não corresponde ao conceito referido acima e que pode vir a se tornar mais um paliativo do que uma solução, pois as contradições em que a educação pública vivencia hoje estão determinadas mais pela falta de investimentos diretos e valorização dos servidores, do que pela simples redistribuição de carga horária e ou a redução de disciplinas nos currículos.
A MP aumenta a carga horária anual de 800h/a para até 1400h/a, sem estabelecer um mínimo de dias letivos- o que abre um enorme precedente para que as Secretarias Regionais de Ensino, estabeleçam calendários acima dos atuais 200 dias letivos. Além disso submete à formulação futura da Base Nacional Comum Curricular quais os conteúdos que serão incluídos no ensino de cada uma das macro áreas de ensino (Linguagens, Matemáticas, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Formação Técnica). Apenas Matemática e Português estariam garantidas nos três anos do ensino médio, possibilitando que as demais disciplinas possam ficar de fora do restante do currículo escolar, retalhando dessa forma a condição de uma aprendizado mais completo e geral. Por sua vez, a MP também atinge os currículos dos cursos superiores de formação de docentes; estes deverão seguir como referência a Base Nacional Comum Curricular (ainda em discussão) determinando dessa forma mudanças também no ensino superior onde os futuros profissionais em educação irão se formar. Há a possibilidade de alterações profundas nesses currículos de modo a levar ao fechamento de cursos específicos.
Outra grande contradição é a possibilidade do fim do ensino politécnico nos Institutos Federais, pois a Medida Provisória condiciona a separação do ensino técnico das demais disciplinas a partir da metade do ensino médio, reeditando o velho modelo tecnicista e utilitarista de educação, que reproduz em última instância a nefasta dicotomia estrutural entre sujeitos que são condicionados para o mundo do trabalho e outros que são adestrados para o vestibular. (É importante que se destaque nesse quesito, que por mais que o atual Governo tente justificar tal Medida Provisória em defesa da formação de futuros profissionais para o mercado, como um maior investimento na Formação Técnica e Profissional em detrimento da formação unitária; isso por si só não garante de fato aumento de possibilidade de empregabilidade e desenvolvimento. Essas duas condicionantes só se equacionam conjugadas com um conjunto de outras ações que façam a economia crescer e de fato, abra condições para a abertura de postos de trabalho. Caso contrário teremos a reedição da política tecnicista operada nos anos 1971 a 1979, quando no afã do milagre econômico, por compulsoriedade, os Governos Militares obrigaram a implementação da modalidade técnica em todas as escolas do antigo 2º grau e o que se viu foi um grande contingente de profissionais técnicos desempregados e que por haver uma grande oferta e baixa demanda, ainda foram utilizados para pressionar os preços dos salários de profissionais de nível superior para baixo, aumentando dessa forma a lucratividade contratual das empresas frente a crise dos anos 70).
Ainda em se tratando dos IF’s, a MP em seu artigo 36, faculta a possibilidade de terceirização da modalidade técnica a partir de outras instituições, imponde dessa forma a eminência de fechamento de diversas unidades de ensino e o fim do investimento na expansão da rede tecnológica iniciada em 2008.
Por fim, a discrepância chega ao ponto de se eliminar a exigência mínima de formação pedagógica para o exercício do magistério, precarizando mais ainda a qualidade do ensino, através da contratação, sem concursos públicos, de “profissionais com notório saber” para cobrir o déficit de professores especializados em algumas áreas, tais como: química, física e biologia, ao invés de encarar de frente os motivos dessa realidade; além disso, abre um grande precedente para o apadrinhamento político nas escolas públicas de pessoas próximas de Diretores e Secretários Municipais de Educação, usando o espaço público para fins escusos.
Em nome de uma escola de base integral, flexível e antenada com os interesses formativos dos estudantes, o que se pretende é a redução massiva do quadro de servidores com desligamentos de servidores concursados e fechamentos de vagas, aumento da carga horária de trabalho, redução sistêmica de diversas disciplinas, de modo a precarizar seu conteúdo, supervalorizando algumas áreas com perspectivas utilitaristas em detrimento de outras, além da redução a médio e longo prazo da possibilidade de condição de alunos de escolas públicas e vindos da classe trabalhadora, terem condições e equidade de acesso ao ensino superior.
Há a promessa de “aumento de investimentos” e “auxílio” às escolas que aderirem ao novo modelo, mas como acreditar nessa falácia – em tempos de austeridade impostas pelo Mercado Financeiro e seus agentes monetários -, sendo que nos últimos anos o MEC foi o ministério que mais teve cortes orçamentário, além de tramitar no Congresso, PL(s) como a que congela por 20 anos investimentos na educação!!!!
Dos sofismas discursivos da “Pátria Educadora” do Governo Dilma, onde foi pensado inicialmente a essência dessa MP e onde foi chocado o “Ovo da Serpente” com o PL nº 6840/2013 do Deputado Federal Reginaldo Lopes ( PT-MG), ao repertório do Programa: “Pinguela para o Passado” do (Des)Governo Temer, o que podemos constatar inequivocamente é a tentativa de adaptar à fórceps a educação pública aos interesses e imposições do mercado e seus paladinos de plantão.
Essa MP deve ser entendida como mais uma ação conservadora e retrógrada em curso no Brasil e que associada a tantas outras em tramitação no Congresso, irão condicionar menos direitos à classe trabalhadora e restrições a qualquer possibilidade de mudança estrutural no status quo dessa sociedade, cada vez mais alienada, instrumentalizada e subordinada aos ditames neoliberais.
A Educação de modo geral, sempre foi um campo estratégico em questões políticas, tanto em seus aspectos sociais e a sua funcionalidade com relação a formação do perfil técnico e cognitivo dos trabalhadores, quanto em relação à instrumentalização ideológica do Estado a partir do ensino ou ao condicionamentos de acesso ao conhecimento. Foi assim em 1759 quando o Marquês de Pombal promoveu a primeira reforma educacional em Portugal e suas colônias diminuindo a influência jesuíta no Estado; foi assim ao longo do século XX quando da aprovação da 1ª LDB em 1961 e quando da resistência do Movimento Estudantil aos acordos MEC/USAID em 1968, ou as manifestações de rua em Paris que culminaram com grandes levantes estudantis nesse mesmo período.
A luta pela Democratização do Ensino, pela ampliação de investimentos na formação de nosso povo e valorização da escola pública como espaço legítimo de acesso ao conhecimento e possibilidade de alteração das determinações estruturais que se impõe à classe trabalhadora, ganha mais um componente retrógrado, transvestido de modernidade com todos os penduricalhos reluzentes (flexibilidade, racionalização, autonomia) que iludem os mais desavisados.
Nesse momento cabe àqueles que lutam pela Educação Pública, de Qualidade, Democrática e Popular a tarefa de aprofundar o debate sobre a MP de modo a revelar suas contradições, limites e incoerências para que se possa fortalecer a unidade de ação contra mais esse ataque.

Fábio Bezerra é professor e membro do Comitê Central do PCB.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

PT UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA



Boa parte da militância de esquerda no Brasil hoje ataca o PT, sejam ex-petistas organizados em outros partidos de esquerda, militantes de movimentos sociais e ex-militantes do PT soltos e desiludidos com os rumos e o caminho traçado pelo PT para chegar ao poder e administrá-lo para o grande capital.
Para entender o fenômeno PT é preciso entender a história recente do Brasil, a luta de classe e como as classes dominantes traçaram os rumos da ditadura empresarial-militar até a abertura e consolidação da hegemonia burguesa no fim da ditadura em 1985.

Entre o fim dos anos de 1970 e início dos anos de 1980, parte da sociedade brasileira lutava contra a ditadura empresarial-militar instalada em 1964. A burguesia brasileira tinha como objetivo o processo de abertura com uma lenta transição democrático-burguesa, que tentou tirar de cena os setores mais combativos ao regime, “em especial o Partido Comunista Brasileiro-PCB”.

O PCB através de suas organizações conseguiu agregar os diversos setores descontentes com a ditadura, assim, começava o desgaste e o aumento do prestígio das forças de oposição a ditadura. O PCB se torna o principal alvo dos órgãos de repressão quando diversas organizações do partido são atingidas, militantes e dirigentes do partido são presos, torturados e assassinados e ainda hoje muitos constam entre os desaparecidos, foi neste cenário tão desfavorável para os comunistas que começava a movimentação para formar o Partido dos Trabalhadores (PT).

O Partido dos Trabalhadores se beneficia diretamente do cerco e extermínio promovido pela ditadura contra o PCB, as ações do PCB na articulação das forças políticas contra a ditadura empresarial-militar foram fundamentais para o crescimento das manifestações de massa contra o regime.

A Igreja Católica através da teologia de libertação e diversos grupos Trotskistas encontraram no PT uma possibilidade de rivalizar com o PCB no movimento sindical, não foi à toa que um colégio tradicional como o Sion forneceu espaço para a criação do PT em 1980, neste primeiro encontro, o Partido dos Trabalhadores se quer falava em socialismo.

Os partidos de esquerda, principalmente os comunistas sempre tiveram dificuldades para dialogar com as instituições religiosas por causa do comportamento conservador de alguns líderes, no entanto o PT desde sua fundação, sempre contou com o apoio de diversas instituições religiosas, não só católicos progressistas, mas também entre os católicos carismáticos e também os protestantes de onde veio, por exemplo, Benedita da Silva.

O Partido dos Trabalhadores em seu nascedouro abrigou diversos grupos de diversas matrizes, militantes que vieram do PCB, PCBR, ALN, MR8, MDB, PCdoB e outros. Grupos da Igreja Católica e do Novo Sindicalismo. Ao longo do crescimento do Partido dos Trabalhadores, as tendências foram se adaptando a máquina partidária, grupos Trotskistas como a Libelu e a Convergência Socialista que mais tarde virou o PSTU, eram pequenos partidos dentro do PT. O PT já surge legalizado e permitido pela ditadura empresarial-militar em 1980 atrelado ao fundo partidário, contribuindo desta maneira para criar uma militância ligada à legalidade burguesa.

O apoio ao socialismo é muito vago e esporádico, tanto que até hoje o Partido dos Trabalhadores e suas diversas correntes não assumiram que apoiaram o Solidariedade, grupo político apoiado pelo Vaticano, pela “CIA e por toda direita mundial” que ficou demonstrado mais tarde que o Solidariedade era anticomunista, inimigos dos trabalhadores grupo que lutava para restaurar o capitalismo na Polônia, quando de fato aconteceu a partir do governo Lech Walece, ambos eram católicos, Walece e Lula foram recebidos pelo Papa João Paulo II de linha conservadora inimigo declarado do Socialismo e da Teologia da Libertação.

No Movimento Sindical o PT quando surgiu se apresentava como o novo, a grande novidade do movimento operário e sindical no Brasil. Começava procurando falsificar a história das lutas dos trabalhadores como se as lutas dos trabalhadores tivessem começado nos anos de 1970 e que o PT era o primeiro partido operário no Brasil. Em nome do novo, o Partido dos Trabalhadores procurava não só combater a era Vargas e a estrutura sindical atrelado ao Estado, com os sindicatos hegemonizados pelos chamados pelegos, mas procurava também combater os Comunistas. Estes eram naquela conjuntura seus principais inimigos a ser combatidos, não só por setores Católicos conservadores anticomunista de onde veio o Lula como também os ex-PCB e grupos Trotskistas que precisavam naquele momento combater a velha capacidade de influência e articulação do PCB no meio sindical. Até os anos de 1980, era difícil separar radicalmente sindicalistas do PCB, foram os anos de cerco e perseguição promovida pela ditadura empresarial-militar, mas os erros táticos do PCB entre o fim da década de 1970 e início de 1980. Para se ter uma ideia, o Partido dos Trabalhadores sempre foi um partido legalizado.

O PCB teve o seu congresso realizado em 1982 na Praça Dom José Gaspar, invadido pela Polícia Federal que enquadrou o PCB e seus militantes e dirigentes na famigerada lei de segurança nacional, isto em 1982. Enquanto os militantes do PT podiam andar livremente usando suas camisetas do Solidariedade e falar bobagens contra o Socialismo e os Comunistas.

O chamado “Novo Sindicalismo” que despontava nas greves do ABC paulista, surgiu descolados do Marxismo como orientação ideológica e do Leninismo como orientação político-organizativa, se julgavam o novo no movimento sindical negando todo passado de luta que o Partido Comunista construiu.

O inimigo não era apenas os pelegos da era Vargas, o inimigo a ser combatido era os Comunistas, o próprio Lula já declarava o grande empecilho que era a existência do PCB para a criação do Partido dos Trabalhadores, já que, até aquele período o PCB era a principal força política no meio sindical. Com acertos e erros foram os comunistas desde a década de 1920 que apresentam um programa claro de ruptura com o sistema capitalista. O PT desde o seu nascimento sempre apresentou um programa difuso, não se assumiram Sociais-Democratas, o PT desde quando se tornou a principal força política no meio sindical e popular só tem conduzido as massas trabalhadoras ao desarme político e ideológico, as ideias como “cidadania” e “colaboração de classe” invadiram o meio sindical hegemonizado pelo PT, surgiram criticando o PCB como velho, terminaram como o que há de pior na traição de classe ao chegar no Governo em 2002, os Sindicalistas Petistas se abrigaram na máquina do Estado Burgues, se envolvendo na corrupção, aceitando fazer o jogo do grande capital, “terminando mais pelego que os pelegos que diziam combater”, o que acabou respingando em toda esquerda no Brasil, deixando um Déficit organizativo no conjunto das classes trabalhadoras brasileiras após treze anos de Governo do PT.

Um partido que surgiu como o PT com tamanha diversidade político-ideológica e regional, só poderia dar nisso que deu, ao negar o Marxismo como ideologia do proletariado e o Leninismo como organização de um partido independente e de classe. O Partido dos Trabalhadores abriu caminho ao pragmatismo político e possível adaptação a ordem burguesa.

O processo de degeneração do Partido dos Trabalhadores não começou com a chegada de Lula a presidência da república em 2002, foi um processo continuo de acordo com a conjuntura. Essa pluralidade no PT se reflete com a formação da Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania, que apoiaram a candidatura de Lula em 1994 e 1998, seja pela articulação de empresários através do grupo ETHOS, liderado por Lawrence Pih, um importante empresário formado em Filosofia na University Of Massachussetts nos Estados Unidos. Além da contribuição e aliança com grandes empresários, o PT foi cada vez mais um partido da ordem burguesa, quando começou a ganhar prefeituras pelo país a fora com um Slogan despolitizado para não afrontar o sistema capitalista, o famoso “o PT faz bem, o PT na prefeitura só é nota cem”!! O Partido dos Trabalhadores nas prefeituras ampliou sua relação com diversos empresários locais e nacionais, viciando dirigentes locais, intermediários e nacionais na convivência promiscua tão comum na sociedade capitalista. O PT se apresentava como um gerenciador do capitalismo brasileiro. No governo o PT e seus aliados dito de esquerda como o PCdoB procuravam domesticar as massas trabalhadoras através da cooptação dos movimentos sociais, confirmando uma previsão de Antonio Gramsci que após 1917 a burguesia criou formas de cooptação das classes subalternas sem que nem um tiro seja dado, isto é promovido através da corrupção na máquina partidária e sindical onde funcionários e militantes vão se adaptando a ordem burguesa. Gramsci apenas aprofunda uma previsão de Lenin quando o dirigente Bolchevique denunciava o perigo da formação da aristocracia sindical e operária criada pelo imperialismo para amortecer a luta de classes. O Partido dos Trabalhadores aceitou fazer este jogo quando construiu a governabilidade burguesa.

Nos fóruns internacionais para agradar a burguesia do Brasil e o Imperialismo, o PT aumentou suas críticas as organizações do campo revolucionário, procurou negar a participação das Farcs no Fórum de São Paulo nos anos 1990. O PT passou a fazer alianças até mesmo com o PSDB e o DEM (antigo PFL), partidos que deram sustentação a neoliberalismo nos tempo de Fernando Henrique, mesmo após o impeachment de Dilma Rousseff o PT segue fazendo aliança no Brasil a fora com o mesmos partidos que votaram pelo afastamento da presidente Dilma, como o PMDB do atual presidente Michel Temer.

Com a carta aos brasileiros em 2002, o PT apenas consolida um longo processo iniciado no fim da década de 1970. O PT se beneficia do processo de abertura promovido pela ditadura empresarial-militar, mantendo o pacto conservador com a burguesia do Brasil e o imperialismo, assim foi feito nas negociações de bastidores entre Fernando Henrique e Lula, quando negociaram a viagem de Lula aos Estados Unidos após Lula ser eleito presidente do Brasil em 2002. Nesta negociação Lula e Fernando Henrique e os organismos internacionais decidiram nomear Henrique Meirelles, “homem de confiança dos grandes bancos nacionais e internacionais”. No plano interno para garantir a governabilidade burguesa o PT tratou de ampliar a base parlamentar com os velhos grupos políticos que sempre comandaram o capitalismo brasileiro, com isto o governo petista garantiu grandes lucros as grandes empresas através dos financiamentos do BNDES com as PPP’s, privatizações como as rodadas dos leilões do petróleo, ampliou o agronegócio, enquanto os Índios e os Quilombolas não tiveram suas terras reconhecidas e nem foi realizada a reforma agrária, tudo isso foi feito como o aval dos movimentos sociais hegemonizados pelo PT e seus aliados como: PCdoB, PDT e PSB, através de seus militantes e dirigentes fizeram o serviço sujo de ser a expressão da ideologia burguesa dentro dos movimentos sociais da classe trabalhadora.

Acordos e investimentos foram feitos em Cuba, China, Venezuela e Alguns países da África. Acordos feitos por puro interesse da burguesia brasileira, interessada em diversificar seus investimentos no exterior.

Se o governo do PT tivesse interesse em construir uma alternativa antiimperialista, teria investido na Alba a alternativa bolivariana construída pelo presidente Chaves da Venezuela. Não teria assinado acordos militares com os Estados Unidos, Israel e Colômbia, não teria aceitado a política imperialista de mandar tropas do Brasil para o Haiti, foi o próprio lula que disse em visita na Colômbia que a América Latina não precisava da Espada de Bolivar e sim de mais créditos, defendo na verdade a integração entre as burguesias da América Latina.

Podemos dizer que a burguesia brasileira é uma das mais pragmáticas do mundo. Ela é capaz de dizer que o governo do Brasil é contra o bloqueio a Cuba e ao mesmo tempo ter acordos com os Estados Unidos, diz ser solidária a causa Palestina enquanto tem acordos com Israel na área militar e comercial.

A política Social promovida pelo governo do PT foi muito rebaixada, não se trabalhou a politização das massas trabalhadoras que passaram até acesso ao consumo, apenas se criou uma falsa ideia de que se estava criando uma nova classe média no Brasil. Foi uma caricatura de uma social-democracia tentando aplicar uma política do bem estar em uma época em que os partidos sociais-democratas estão totalmente rendidos a política do grande capital não podendo mais fazer a mediação entre o conflito capital-trabalho.

No governo, o PT escolheu não afrontar a burguesia de plantão, não se tocou nos temas da luta de classes e não se fez o enfrentamento a política neoliberal dos governos anteriores nem procurou engavetar as reformas contra os trabalhadores e foi no governo Lula/Dilma que seguiram dando prosseguimento as reformas trabalhistas, sindical e previdenciária da era Fernando Henrique do PSDB.

Se por um lado o governo petista dava alguns benefícios à população de baixa de renda, do outro lado dava bilhões as grandes empresas através do apoio do Estado brasileiro.

Para chegar ao poder e garantir a governabilidade do grande capital, o PT não precisou romper com o marxismo, porque o PT não foi nem nunca quis ser um partido socialista ou comunista, para buscar alianças com a direita, o campo majoritário soube usar sua influência no interior do PT, enquanto alguns grupos ditos da esquerda do PT não romperam e nem saíram do PT, estes grupos também estavam viciados nas benesses dos mandatos, sendo assessores parlamentares. Quando alguns grupos da dita esquerda do PT saíram, não foi por livre opção, só saíram quando foram expulsos se não teriam ficado colados nas benesses do petismo como sempre fizeram desde a fundação do PT em 1980.

Hoje uma das grandes tarefas das forças políticas anticapitalistas no Brasil é desmascarar as forças políticas reformistas que ainda exercem influência no seio da classe trabalhadora. O Partido dos Trabalhadores cumpriu um desserviço na consciência e na história das lutas dos trabalhadores no Brasil. É hora de se resgatar a identidade de classe, romper com a conciliação e traição de classe promovida pelo petismo e seus aliados nestes treze anos em que estiveram no governo de ampla coalizão dos governos Lula/Dilma.

O petismo em seus treze anos de governo transformou antigos militantes em políticos envolvidos na sujeira comum da tradicional política burguesa, totalmente humilhados e rendidos nas mãos das classes dominantes, implorando participar do clube onde não foram convidados. Foram usados e chutados pela burguesia, porque os petistas foram quem de fato escolheram governar para o grande capital. Não dá para passar uma borracha como se nada tivesse acontecido nestes últimos treze anos. Como estão querendo fazer os militantes e dirigentes do PT e seus aliados com o objetivo de neutralizar e hegemonizar os movimentos sociais para tentar barrar a esquerda classista que não conciliou com os treze anos de governo de traição de classe.

Lembrando Caio Prado Junior, não podemos trabalhar com práticas políticas de alianças que levem ao desarme político e ideológico das classes trabalhadoras, devemos romper com velhas práticas para construir um programa anticapitalista que leve os trabalhadores a se colocar em movimento para manter e ampliar direitos.

Hoje mais do que nunca é necessário manter viva a consciência de classe para criar as condições da unidade de todos os trabalhadores para defender seus interesses legítimos. Romper com o reformismo e a conciliação deixando bem claro que de um lado estão às forças do passado que se aliam com a burguesia e de outro lado as forças políticas com um projeto claro de futuro de transformações radicais da realidade brasileira.

Na composição deste bloco de forças anticapitalista e antiimperialistas não há espaço nem para a conciliação nem para o reformismo. A partir daí poderemos lutar para superar o capitalismo em direção ao socialismo em nosso país. 

 

 

José Renato André Rodrigues

Professor de Filosofia da Rede Pública Estadual do Estado do Rio de Janeiro

Secretário político do PCB na cidade de Nova Iguaçu - RJ