Brasileiras e brasileiros querem um país melhor, onde possam viver em
segurança, terem uma vida produtiva, divertida, saudável, exercer suas
crenças e viver de acordo com suas convicções. Esses sentimentos em si
unem grande parte da nação. No entanto, o debate sobre como conquistar
tais objetivos divide a sociedade. Para uns, é preciso maiores garantias
de direitos. Para outros, maior rigor penal. Para uns, é preciso se
falar sobre cidadania, gênero, raça, orientação sexual, identidade de
gênero e discriminação em sala de aula. Para outros, tais assuntos devem
ser debatidos apenas no seio familiar sem qualquer interferência do
Estado. Para uns, retomar o respeito a valores religiosos em todas as
esferas da vida seria a solução para a pacificação social. Para outros, o
respeito à Constituição é o único modo de viver numa sociedade plural,
com inúmeras crenças e convicções diferentes, todas elas igualmente
válidas.
Tais embates têm por característica estarem sendo travados em um
período no qual as informações estão disponíveis de modo viral na
internet e nos aplicativos de celular. As informações voam a velocidades
impressionantes e se reproduzem de modo dinâmico. Muitas vezes, pelo
formato no qual são divulgadas, é difícil até para pessoas com maior
experiência na identificação de boatos notarem a falsidade. As noticias
falsas, no entanto, são lançadas com um propósito: o de acirrar ainda
mais os ânimos entre os dois polos. Há quem hoje finalize qualquer
conversa ao ouvir palavras ou expressões como “direitos humanos”,
“respeito à diversidade”, “ideologia de gênero”, “valores cristãos”. As
duas primeiras expressões representam o grupo dos defensores de direitos
humanos e as duas últimas as pessoas vinculadas à defesa de valores
familiares e religiosos mais conservadores. A cada dia parece que se
torna mais difícil os partidários de uma das correntes não se sentir
ameaçado pelos filiados da outra.