quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

SP: Alckmin fecha 2700 salas de aula

50 alunos ou mais por sala de aula, escolas caindo aos pedaços, baixa remuneração e nenhuma perspectiva de melhoria. O desafio de ser professor no estado de São Paulo é enorme e a gratificação é praticamente nula. As péssimas condições de trabalho implicam em problemas de saúde nos profissionais e, os alunos, engarrafados entre três paredes e um quadro negro, assistem ao desmonte de sua formação.
Definitivamente, o ano letivo não começou bem para a educação. Isso porque, ao voltar das férias, grande parte do corpo docente percebeu que teria que encarar salas com mais de 50 alunos, muitas vezes até mais. 
Para o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) o governo do PSDB liderado pelo governador Geraldo Alckmin tem adotado uma prática de desmonte paulatino da educação ao fechar salas das escolas estaduais com a justificativa que antes haviam muitas salas vazias. Em alguns casos, as escolas teriam se recusado, inclusive, a fazer o registro de solicitações de matrícula. Como se não faltassem problemas,  a Secretaria da Educação ainda deixou de repassar a verba que deveria ter entregado no fim do ano passado para manutenção e reforma das escolas.
Fechamento e superlotação
“Nós iniciamos o ano letivo assustados”, contou o professor de história, Sílvio de Souza, que leciona na Escola Estadual Salim Farah Maluf, na Zona Leste da capital. “Na escola em que eu trabalho tem turmas do ensino regular, do fundamental 1, 2 e do ensino médio com salas superlotadas. Os primeiros anos do ensino médio da escola onde eu trabalho, à tarde, tem mais de 60 alunos. Tenho lista com 63 alunos, 62, 58... Quer dizer, eles pegam 180 alunos e dividem em 3 turmas.”
A superlotação das salas denunciada pelo professor não é arbitrária e esse ano foi motivada pelo fechamento em massa de salas de aula. A gravidade da situação ficou ainda mais patente quando, após diversas denúncias de professores, um levantamento parcial realizado pelo sindicato revelou que, entre 2014 e 2015, 3.000 salas foram fechadas pela Secretaria da Educação. As regiões mais afetadas são Guarulhos, onde 300 salas foram fechadas, e Santo Amaro, com 250 salas. Com isso, os alunos acabam sendo agrupados nas salas restantes, o que resulta na superlotação.
A prática de fechar turmas e lotar salas já era comum na Educação de Jovens e Adultos (EJA) mas nunca fora aplicada em massa no ensino regular. “Eu já trabalhei com turmas do EJA de anos anteriores que a lista chegava a 90 alunos”, disse o professor. O que ocorria nos anos interiores era o fechamento de 15 a 20 salas em cada 100 escolas. Agora, apenas na diretoria de ensino Leste 3, que tem 77 escolas, houve mais de 100 salas fechadas.
A determinação oficial da Secretaria é que no primeiro ciclo do ensino fundamental haja 30 alunos por sala, no segundo ciclo, 35, e no ensino médio, 40. No entanto, imagens das listas de alunos feitas pelos professores tem comprovado que o que há na realidade são salas com 50, 70 e até 80 alunos.
Ensino prejudicado
No fim, a principal vítima da situação é o ensino, dado que, com a quantidade de alunos em sala, é praticamente inviável que a aula ocorra. “Como você consegue dar um atendimento individualizado, tirar uma dúvida, conseguir estar mais presente com o aluno no cotidiano? É impossível. A chamada é quase uma odisséia”, diz Silvio. Em muitos casos os alunos nem conseguem entrar na sala, que com 40 alunos já esgotou sua capacidade física. Por isso, segundo relatos de professores, a primeira semana foi usada quase que exclusivamente para tentar fazer com que todos os alunos coubessem nas salas designadas. Em algumas escolas, os bancos do pátio foram levados para dentro para que os alunos pudessem se sentar.
A consequência para os professores é ainda pior e pode levar a um quadro de afastamento da profissão. Segundo Silvio, “é uma tortura. Isso, inexoravelmente vai levar a um adoecimento maior dos professores. Em um cotidiano de sobrecarga de trabalho você se estressa muito mais, você tem que usar muito mais a voz, você tem uma quantidade de tarefas maior, preparar atividades e corrigir trabalhos.”
Cortes
No fim do ano passado, a Secretaria de Educação enviou um ofício às 5.300 escolas do estado dizendo que, em função da necessidade de fechar as contas, antes do fim do último mandato do governo de Geraldo Alckmin, não seria repassada a verba destinada à compra de materiais de escritório, limpeza e pequenas obras. Geralmente os colégios recebem, anualmente, R$ 7.900,00. Com o corte,  as escolas passaram a sofrer da falta de materiais básicos como papel higiênico e sulfite.
O sindicato aponta como principal culpado pela situação precária nas escolas o governo do PSDB no estado. Para a presidente da Apeoesp, Maria Izabel Noronha, os gastos com a última eleição e a necessidade de fechar as contas do governo estadual fizeram com que o governo enxugasse a máquina. Tanto é que, assim que assumiu o novo mandato, o governador tucano Geraldo Alckmin anunciou o corte de 10 mil vagas no ensino técnico estadual, o que representa 50% de todas as vagas e o contingenciamento de 3% do orçamento da pasta para educação, que corresponde a cerca de R$ 850 milhões.
Mais do que isso, a presidente aponta que a própria ideologia do PSDB faz com que se faça cortes no setor público: “Essa é a tônica do PSDB, a lógica de estado deles é de estado mínimo. Aí qualquer probleminha que aparece, onde eles vão mexer? Onde a população mais precisa, nos serviços públicos, a educação, a saúde, a segurança. Eles não vão mexer nas grandes obras. Isso vem desde 1995 quando pela primeira vez o governador Mário Covas instituiu a reestruturação física das redes, a título de dizer que com isso melhoraria a qualidade de ensino. E a partir daí fomos assistindo esses 30 anos de tucanato no estado de São Paulo com essa visão de gestão pública, fazendo com que amplos setores da população paguem o preço.”

http://www.carosamigos.com.br/index.php/politica-2/4812-sp-alckmin-fecha-2700-salas-de-aula
 

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

'EUA, uma nação em declínio': maioria dos estudantes de escolas públicas vive na pobreza








Um novo estudo divulgado na sexta-feira mostra que mais da metade dos estudantes matriculados nas escolas públicas americanas vive na pobreza, um cálculo que o autor do relatório diz colocar os EUA no caminho para o declínio social geral.
Publicado pela Fundação Educacional do Sul, a nova análise usou o censo nacional mais recente disponível para confirmar que 51% dos estudantes ao redor das escolas públicas da nação eram de baixa renda em 2013.
De acordo com o relatório:
Em 40 dos 50 estados, estudantes de baixa renda constituem não menos que 40% de todas as crianças de escola pública. Em 21 estados, crianças que ganhavam almoços gratuitos ou com preço reduzido eram a maioria dos estudantes em 2013.
A maior parte dos estados com uma maioria de estudantes de baixa renda é encontrada no Sul e no Oeste. 13 dos 21 estados com uma maioria de estudantes de baixa renda em 2013 localizavam-se Sul, e 6 dos outros 21 estados no Oeste.
O Mississippi liderou a nação com a taxa mais alta: 71%, quase 3 em cada 4 crianças de escola pública no Mississippi eram baixa renda. A segunda taxa mais alta da nação foi encontrada no Novo México, onde 68% de todos os estudantes de escola pública eram de baixa renda em 2013.
Em adição à documentação do número de estudantes que recebem alguma forma de assistência do governo durante seu dia escolar, incluindo programas chave que oferecem almoços gratuitos ou com preço reduzido, o relatório deixa claro que a pobreza dentre os mais jovens da nação está impactando diretamente e negativamente o aprendizado dos alunos e a habilidade do sistema publico educacional de alcançar sua meta em fornecer educação adequada para todos.
“Não podemos mais considerar os problemas e as necessidades dos estudantes de baixa renda simplesmente como uma questão de justiça,” diz o relatório. “Seus sucessos ou falhas nas escolas públicas vão determinar o corpo inteiro do capital humano e do potencial educacional que a nação possuirá no futuro. Sem aprimorar o apoio educacional que a nação fornece aos seus estudantes de baixa renda - estudantes com as maiores necessidades e usualmente o menor apoio - as tendências da última década serão prolongadas para uma nação não em risco, mas uma nação em declínio.”
Falando com o Washington Post, Michael A. Rebell da Campanha por Igualdade Educacional na Faculdade de Professores na Universidade de Columbia notou como a taxa de pobreza tem aumentado mesmo com alguns indicadores econômicos tendo melhorado. “Nós sempre sabemos que esta é a tendência, que chegaríamos a uma maioria, mas está aqui mais cedo do que o esperado,” disse Rebell. “Muitas pessoas no topo estão se saindo muito bem, mas as pessoas na base não estão se saindo bem mesmo. Essas são as pessoas que têm mais filhos e que os mandam para as escolas públicas.”
As descobertas mais recentes aparecem enquanto o Departamento de Educação e os legisladores no Congresso começam um novo debate acerca da reautorização do Ato da Educação Secundária e Elementar (ASEA), mais conhecido pelas versões atualizadas ou programas apoiados por aquela lei - Nenhuma Criança Deixada Para Trás (NCLB) sob o presidente George W. Bush e o Corrida Para o Topo (RTTT) sob o presidente Obama.
Aqueles contrários ao programa, tanto democratas quanto republicanos, por causa de seus testes padronizados buscando um alto rendimento, estão esperando que a reautorização da ASEA seja sua próxima oportunidade para apontar as falhas das solicitas codificadas em ambos NCLB e RTTT.
Como Randi Weingarten, chefe da Federação Americana de Professores, disse no inicio da semana passada em resposta a um discurso do Secretário de Educação Arne Duncan: “Qualquer lei que não se refira aos nossos maiores desafios - financiar desigualdade, segregação, os efeitos da pobreza - irá falhar ao tentar transformar as nossas crianças e escolas, que tanto necessitam.”
Ela continuou, “a política educacional federal atual - Nenhuma Criança Deixada Para Trás, Corrida Para o Topo e desistências - consagrou um foco no teste, não no aprendizado, especialmente testes com alta participação e as consequências e sanções que surgem disso. Isso é errado, e é por isso que existe uma chamada pela mudança. A estratégia de abandono e a Corrida para o Topo exacerbaram a fixação por testes que foi colocada pela NCLB, permitindo que as sanções e as consequências ofuscassem todo o resto. [Baseado no discurso de Duncan], parece que o secretário queira justificar e consagrar o status quo e isso é preocupante.”
Em um artigo para a revista The Nation ano passado, os experts em educação e pobreza Greg Kauffmann e Elaine Weiss descreveram um corpo enorme de pesquisa que mostrou os vários fatores associados com como a pobreza afeta o aprendizado, incluindo: a realização educacional dos “familiares”; como os pais lêem, brincam e respondem às suas crianças; a qualidade do cuidado e da educação antecipados; acesso consistente à serviços de saúde mental e física e alimentos sadios.”
O que está faltando do debate amplo, de acordo com Kauffmann e Weis, é a compreensão do “impacto da pobreza concentrada - e da segregação econômica e racial - nas conquistas estudantis” e um contexto muito mais amplo. “É hora de pararmos de ignorar [os impactos da pobreza e da desigualdade educacionais],” eles escreveram. “As ultimas décadas viram a polarização do crescimento de renda, com o 1% do topo colhendo a grande maioria dos ganhos sociais, a classe média diminuindo, e os da base perdendo o chão. Como resultado, a pobreza concentrada é mais potente e relevante do que nunca.”
E de acordo com uma análise da SEF pela Education Week, as taxas em crescimento de pobreza dentre os estudantes serão, e deveriam ser, uma parte mais ampla do debate atual sobre políticas de educação:
As escolas têm sido confrontadas com os desafios da pobreza por anos, mas cruzar o limiar da maioria certamente cria um ponto de conversação poderoso em debates nos níveis local, estatal e federal sobre assuntos que falam desde igualdade e responsabilidade a apoios estudantis.
“Essa pobreza aprofundada irá complicar as discussões políticas sobre como educar os estudantes americanos, como pesquisas anteriores mostraram, os estudante estão em risco acadêmico mais significativo em escolas com 40% ou mais de concentração de pobreza,” escreveu a Education Week quando cobriu as tendências de crescimento da pobreza em 2013.
E, como a Rules for Engagement já reportou, famílias pobres estão cada vez mais se mudando para os subúrbios e vivendo em áreas com altas concentrações de pobreza, criando dimensões para o debate.
A nova maioria de estudantes de baixa renda é outra realidade para os educadores americanos.

http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/-EUA-uma-nacao-em-declinio-maioria-dos-estudantes-de-escolas-publicas-vive-na-pobreza-/6/32685